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Compreendendo e Melhorando seu Setup de Áudio para aplicações de Vídeos, Lives e Podcasts

Se você já não aguenta mais mexer em dezenas de configurações diferentes e ler infinitas especificações de equipamentos dos mais variados tipos para saber se você está indo na direção certa, e ainda morre de medo de gastar seu suado dinheiro em algo que pode não lhe trazer os resultados que gostaria de obter, então permita-me falar sobre isso contigo e, quem sabe, ajudá-lo a entender um pouco melhor sobre o que pode e o que não pode ajudá-lo a obter aquele áudio super agradável que você tanto almeja em seus vídeos, suas Lives e seu Podcast.

É muito importante alertar aos audiófilos, engenheiros de som, produtores musicais e demais entendidos do assunto que este artigo NÃO se destina a tais profissionais. Uma parcela do conteúdo pode passar a falsa impressão de que é esse o caso, mas não é. O propósito deste artigo é ajudar quem esteja disposto a investir ao menos um pouco em condições dignas para atuar de forma semiprofissional ou profissional na parte de áudio de seus trabalhos. Caso você simplesmente não aceite investir de forma compatível com nível de qualidade baseado em suas exigências, não posso garantir qualquer ganho significativo de qualidade na sua própria opinião.

Já aviso de antemão que o artigo será bastante longo e abordará diversos aspectos distintos. Não quero trabalhar aqui com “resumões”, porque fico com a sensação de que passa a falsa impressão de que existem receitas mágicas que resolverão todos os seus problemas e que garantirão êxitos, sendo que a vida não é assim. Se, e somente se, você compreender que é assim que será o artigo e julgar aceitável prosseguir, vá adiante com a leitura; se você veio atrás de receitas milagrosas, não perca seu tempo lendo este trabalho; ele não é para você e não irá ajudá-lo.

Antes de começar a me aprofundar aqui neste assunto, falarei o óbvio, pois às vezes é importante falar até mesmo o óbvio: não adianta tentar obter uma qualidade profissional utilizando equipamentos que mais parecem ser brinquedos de qualidade duvidosa. Digo novamente: não espere receitas mágicas neste artigo. Se você veio aqui pensando que obterá uma fórmula mágica que permitirá extrair a qualidade de áudio do Leo Laporte utilizando aquele seu Headset “Gamer”, pode esquecer; não há o que resolva isso.

É, sim, possível fazer algumas poucas melhorias em termos de configurações e ajustes de Software, mas não há milagre que faça com que o microfone daquele seu Headset “Gamer” soe tal como um Neumann U87 plugado a um Channel Strip Manley Voxbox e amostrado por uma interface Apogee Symphony com cabos XLR banhados a ouro dentro de um estúdio com isolamento e tratamento acústicos projetados por uma consagrada empresa de engenharia licenciada na área de acústica. E isso continuará sendo verdade, mesmo que o fabricante do tal Headset “Gamer” jure de pés juntos que a qualidade do microfone que ele te vendeu é “profissional” e mesmo que ele diga que há milhares de Streamers e YouTubers que utilizam o mesmo equipamento. E tome, também, cuidado com “selos” de qualidade que certos renomados fabricantes de áudio colocam nesses Headsets “Gamer”.

Também é importante dizer uma coisa que, infelizmente, machuca muito se você não estiver preparado para receber essa informação tão impactante, e que é reiteradamente dita pelos famosos produtores musicais Lisciel e Paulo Anhaia: se sua voz não for “boa”, não há Setup que faça com que ela passe a ser “boa”; só você nascendo novamente para consertar isso. Neste caso, a ideia de “voz boa” trata-se de uma voz com características que sejam, aos ouvidos de especialistas da área, uma voz organicamente agradável; ou seja, trata-se de uma voz que, mesmo sem depender de qualquer tipo de processamento artificial, soará muito agradável aos ouvidos de uma significativa parcela de um público rigoroso, considerando-se aqui a finalidade a que se destina. Agora, para muitas finalidades, sua voz não precisa soar como se ela fosse a do Leo Laporte; isso, aliás, é um grande preconceito entre leigos da área.

Não é preciso que sua voz seja super “profunda” e grave para que você seja considerado alguém com uma voz “boa”. Na verdade, essa é uma das menos importantes características, dependendo da finalidade dessa voz. Dependendo do que se almeja fazer com a voz, garantir uma boa prosódia, por exemplo, é algo muito mais importante. Não precisar fazer repetidas pausas frequentes para beber água, tossir ou pigarrar durante um trabalho de voz é outro exemplo de enorme importância. Essas são apenas algumas das várias características que, em termos de importância, vêm muito antes de se avaliar o quão grave, “profunda”, “macia” e “aveludada” é uma voz, principalmente considerando o fato de que há muitas diferentes finalidades para a voz, e nem todos têm a intenção de cantar ou de trabalhar com, por exemplo, locução publicitária.

É muito importante que você compreenda que o nível de exigência de equipamentos e configurações crescerá conforme o quão exigente for a sua exigência por qualidade, mas de forma não linear! Não podemos esperar uma qualidade compatível com um estúdio de 1 milhão de dólares se nós não estivermos dispostos a sequer desembolsar 2 mil reais. Isso nem faria sentido, apesar de ver que, no dia a dia, pessoas leigas tendem a exibir esse tipo de pensamento. Se você quiser qualidade alta, infelizmente, será preciso investir de forma compatível. Isso só deixa de ser verdade a partir do ponto que você percebe que, na verdade, você mesmo talvez não esteja preparado o suficiente para identificar o que é verdadeiramente um trabalho de alta qualidade e o que, na verdade, só parece ser tão bom assim aos ouvidos de leigos da área; afinal, se for esse o caso, basta ser OK para você já considerar aquilo algo de alta qualidade, o que permitirá gastar bem menos para alcançar isso que você chama de “alta qualidade”.

Dito isso, podemos, então, passar a conversar um pouco sobre cenários de aplicação, objetivos, equipamentos e configurações. Vamos começar com a acústica do ambiente de gravação.

Acústica do ambiente

Antes de entrar nesta seção, eu já aviso que ela envolverá questões que dependerão de investimentos que costumam ser considerados elevados, e sabemos que isso pode ser um problema para a grande maioria das pessoas. Devido a esses custos bem acima do que as pessoas costumam entender como aceitáveis, é bastante comum que as pessoas prefiram aderir a métodos caseiros, improvisos e gambiarras. Não condeno quem opte por seguir por esses caminhos, pois às vezes são esses únicos caminhos aos quais nós temos acesso em certos momentos da vida, mas quem segue por esses caminhos precisa entender uma única coisa: não é verdade que o resultado é tão bom quanto a solução profissional; é importante estar ciente disso para não se frustrar depois.

Independentemente de qual venha a ser o seu objetivo, minha primeira sugestão mais técnica para melhorar os resultados é: invista em sua acústica. Refiro-me a um investimento duplo, pois isso envolve tanto o “isolamento” acústico do ambiente quanto o seu tratamento acústico. Um trabalho sério de isolamento é algo extremamente complexo, caro e demorado, porque costuma envolver trabalhos a nível de construção ou reforma do ambiente, e isso realmente não está ao alcance da maioria. Felizmente, não precisamos chegar a tanto para obter um nível já muito bom de qualidade. Só tenha em mente que isso NÃO significa que não haverá gastos. Na verdade, este provavelmente será o gasto mais alto de todos, mas valerá cada centavo.

Comece estudando o seu ambiente, mesmo que de forma um tanto superficial. Faça-se as seguintes perguntas, considerando o momento de seu trabalho (de gravação ou transmissão):

  1. É comum que eu consiga ouvir sons altos vindos da rua?
  2. Meus trabalhos costumam sofrer com captura de sons indesejados advindos de minha própria casa, como telefones tocando, campainhas, pessoas conversando, crianças brincando, animais, ou algo do tipo?
  3. Minha mesa ou minha cadeira fazem muito barulho, por exemplo, rangendo quando eu me mexo um pouco?
  4. Existem equipamentos barulhentos dentro de meu ambiente de trabalho, como computadores com ventoinhas de refrigeração barulhentas, geladeira (ou frigobar, ou cervejeira, ou adega), ventilador ou afim?

Respondidas essas perguntas, você poderá traçar um plano sobre quais serão as soluções mais urgentes para você. Se o ambiente externo for bastante calmo, ao menos por agora, você não precisará investir em um isolamento do ambiente externo de seu imóvel, o que significa, por exemplo, que você não precisará comprar uma janela de proteção acústica, tampouco precisará fazer tratamentos termoacústicos nas paredes do cômodo. Caso o seu ambiente interno seja tranquilo, não precisará investir tanto em uma proteção acústica interna, como uma porta acústica. Se mesa e cadeira forem silenciosas, poderá mantê-las. Se não houver equipamentos barulhentos, não precisará se preocupar com remanejamentos, reposicionamentos ou substituições.

Existem alguns elementos importantes a serem considerados até aqui. Caso sua área externa seja barulhenta demais, ainda que você coloque uma janela acústica, que é algo necessário para esses casos, você continuará sofrendo com ruídos que entrarão por outros cômodos e passarão por sua porta, caso ela não seja adequada para barrar tais ruídos. Por isso, você, muito provavelmente, também precisará substituir sua porta, dependendo do nível que esses ruídos atinjam. Note que essas duas soluções, janela e porta, só funcionam se estiverem fechadas. Sendo assim, é fácil imaginar que esse ambiente ficará bastante quente. Então, a solução para isso será a de instalar um aparelho de ar condicionado. Porém, não adianta instalar um ar condicionado cuja evaporadora (que é a parte do equipamento que fica dentro do cômodo a ser tratado) seja barulhenta; e você notará que os modelos que são muito silenciosos não são tão acessíveis. Até mesmo a questão da posição da evaporadora poderá ser um problema se o seu cômodo não for suficientemente espaçoso, pois a evaporadora sempre faz algum barulho, e microfones mais sensíveis podem captar tal ruído de modo que chegue a atrapalhar alguns trabalhos que sejam mais exigentes.

Existe alguma maneira de se proteger desses barulhos externos sem que seja preciso investir tanto dinheiro com uma janela acústica e uma porta acústica? Sim, mas a eficácia cai significativamente e haverá a introdução de todo um trabalho manual extra a cada sessão de gravação. Uma forma de se fazer isso artesanalmente, por exemplo, é posicionando um colchão que cubra toda a janela e outro que cubra toda a porta. Caso você possua uma estante (de preferência, com rodízios) grande o bastante para cobrir essa porta ou essa janela, também pode ajudar. Existem, também, alguns tipos de cortinas acústicas (que muito lembram um edredom bastante espesso e fofo), que chegam a ajudar um pouco no caso das janelas, mas não têm a mesma eficácia que uma boa janela acústica.

Tudo o que falamos até aqui é apenas sobre a parte de isolamento, e note que é feito de uma maneira bastante “caseira” (e amadora). É apenas um improviso para atenuar o nível dos ruídos externos. Não espere que com essas soluções você chegue a não ouvir absolutamente nada de fontes externas, pois não é bem assim que funciona; você apenas ouvirá com um nível de intensidade significativamente atenuado, o que, portanto, não impactará (tanto) em seus trabalhos de áudio. Só devo reforçar aqui, novamente, que, caso você queira um resultado profissional nessa atenuação de ruído externo, infelizmente, terá mesmo de desembolsar alguns milhares de reais para trocar sua janela por uma janela acústica (ou colocar uma janela acústica sobreposta, caso não possa trocar a janela por algum motivo) e trocar sua porta por uma porta acústica. O próximo passo, então, é avaliar a acústica interna em termos de reverberação.

Novamente, assim como havia dito quanto ao isolamento acústico, volto a dizer aqui: fazer um trabalho de alto nível de tratamento acústico é algo caro, demorado e que requer habilidades que poucos profissionais são capazes de entregar; por isso, o que faremos aqui não é algo a esse nível; queremos apenas tratar certos problemas que estejam gritantes demais, como reverberações muito intensas no cômodo em que se for trabalhar.

Caso o seu ambiente sofra com muita reverberação, algo relativamente acessível que você pode fazer é evitar que esse ambiente fique muito vazio. Preencha-o com móveis de madeira, como mesas, estantes e gaveteiros. Estantes com muitos livros ajudam muito também. Mesas cheias de papéis e livros também fazem um trabalho razoável. Não estamos tentando fazer com que se possa colocar um baterista de uma banda de metal tocando ali dentro; queremos apenas fazer gravações de voz, que nem ao menos será uma voz cantada; será apenas uma voz falada, o que é bem menos agressivo e exigente; portanto, não há de se preocupar tanto.

Se você não quiser sair colocando móveis no ambiente e estiver disposto a investir uma boa grana para tratar adequadamente o ambiente, de forma mais profissional, minha recomendação é a de que chame um profissional capacitado para estudar o seu ambiente e propor um projeto de tratamento acústico conveniente para o tipo de ambiente e o tipo de trabalho a ser feito ali. Agora, algumas dicas interessantes, e mais simples, são a de colocar alguns painéis de absorção acústica — e você mesmo pode fazer alguns, caso não queira comprar prontos — em algumas das paredes do cômodo, talvez utilizar espumas acústicas em parte do cômodo e colocar um carpete no piso do cômodo também.

Esses painéis acústicos aos quais eu me referi costumam se assemelhar a quadros artísticos, embora costumem ser de uma cor só. Por causa de sua aparência bem menos agressiva, você pode conseguir utilizá-los de modo que não tornem seu ambiente esteticamente deselegante. Basta estudar quantos utilizar, como posicioná-los e de qual cor ficará melhor com base no seu ambiente. Um fator dificultador em alguns casos é a estética do ambiente, porque há trabalhos que envolvem a filmagem do ambiente, e, principalmente no caso de soluções improvisadas, a estética nem sempre é das melhores.

Já a respeito das espumas acústicas, é essencial tomar vários cuidados. Um deles é o fato de haver uma infinidade de espumas no mercado que vão contra diversas normas de segurança, como a que obriga que a espuma tenha proteções antichamas, ou mesmo a questão de odores, que certas espumas de baixa qualidade têm, ou outros problemas associados a doenças respiratórias. As espumas também precisam ser escolhidas pensando na região espectral das frequências a serem mais atenuadas. Espumas mais finas podem até ajudar em casos de frequências mais altas, mas, para ajudar em casos de frequências mais baixas, que geralmente são mais difíceis de tratar, pode ser preciso utilizar espumas bastante espessas. As espessuras mais comumente encontradas no mercado variam entre 2,0 cm e 3,5 cm, mas isso é considerado pouco para muitas aplicações. Dependendo do que se tiver em mente, pode ser preciso partir para espumas de 5,0 cm, ou de 7,0 cm, ou até mais que isso.

Ainda no caso das espumas, é preciso tomar muito cuidado com exageros. Se o quarto ficar inteiramente forrado por essas espumas e elas não tiverem sido escolhidas de uma forma que respeite o próprio ambiente e o tipo de trabalho a ser feito ali, o som ali dentro ficará muito esquisito, e poderá até mesmo entregar um resultado pior do que seria se tivesse sido deixado como estava antes de fazer qualquer tratamento. É até comum dizer que a sala está “morta” ao se referir a um ambiente acusticamente inconveniente em termos de um trabalho de tratamento acústico que atenuou de forma danosa as regiões espectrais. Por isso, não se deve simplesmente sair espalhando espumas para tudo quanto é lado. Não é à toa que, caso você possa pagar, vale mais a pena contratar uma empresa especializada para fazer o projeto e a instalação completa, lembrando que a parte do projeto é essencial para que o ambiente seja respeitado.

Em muitos dos casos, em vez de simplesmente colocar espumas para absorver as ondas acústicas, pode ser muito mais conveniente colocar alguns difusores, que são responsáveis por espalhar essas ondas acústicas pelo ambiente, evitando, assim, que elas retornem ao local de origem e, com isso, gerem o famigerado efeito de reverberação, que é o que estamos tentando evitar aqui. Uma boa combinação de espumas de absorção com painéis e difusores bem posicionados pode ser a combinação mais interessante aqui. E não vamos nos esquecer do carpete, porque ele acaba ajudando também, e o carpete até reduz os ruídos dos rodízios das cadeiras e dos passos das pessoas durante gravações ou transmissões, principalmente nos casos de calçados mais barulhentos. Tenham em mente que, quanto mais superfícies lisas de materiais com baixa capacidade de absorção acústica estiverem presentes no ambiente, maior será a chance de sofrer com reverberações, e os microfones tenderão a entregar resultados bem piores por isso.

Para economizar, algumas pessoas costumam sugerir que sejam utilizadas caixas de ovos para substituir as espumas. Apesar de fazer alguma diferença, eu não recomendo, porque a eficácia é realmente muito baixa se comparada à obtida por espumas muito bem projetadas e que respeitem a arquitetura do ambiente e a aplicação. É claro que estamos falando de algo que terá um custo muito diferente, mas é aí que está o ponto: você terá a qualidade compatível com o investimento que faz; não adianta investir R$200,00 e acreditar que a qualidade final será equiparável àquela obtida por quem investe R$10.000,00.

Agora, que já falamos a respeito da acústica do ambiente, apesar de saber que muitos preferirão ignorar a importância que essa parte tem sobre a qualidade final do trabalho, podemos falar da parte que a maioria pensa ser a única que importa: os equipamentos. Vamos começar pelos microfones, pois há muito a ser dito sobre eles, e são eles os principais equipamentos para essa finalidade.

Microfones

Antes de sair gastando seu dinheiro com uma série de microfones caríssimos, pense primeiro em quais são seus objetivos. Essas perguntas podem ajudar:

  1. Você ficará sentado durante o tempo todo, ou precisará se levantar e andar para lá e para cá?
  2. Você gostaria que a voz soasse como a de um locutor de rádio? Ou prefere que soe de forma mais natural, como a de alguém conversando contigo pessoalmente?
  3. Caso você seja gravado em vídeo, você se incomodaria se o microfone aparecesse na cena? E, caso ele apareça, você se incomodaria se ele ocupasse uma parte significativa da cena?
  4. Haverá outras pessoas próximas a você durante essas gravações? Se sim, é possível que essas pessoas falem alto durante essas gravações?

A partir das respostas dessas perguntas, você saberá de muitas informações que ajudarão a escolher melhor qual tipo de microfone atenderá melhor as suas necessidades. Vamos começar entendendo se devemos optar por um microfone cabeado ou por um sem fio.

Cabeado ou Sem Fio?

Se você se locomove muito, precisará utilizar algum microfone que possa ser carregado consigo com bastante facilidade, então seria altamente recomendável que fosse um microfone com um sistema sem fio; o problema é que sistemas sem fio, além de serem caros até mesmo em casos de microfones que sequer chegam a merecer a classificação de semiprofissionais, carregam em si uma série de problemas que não são tão comuns (ou sequer existem) em casos de microfones cabeados.

Por exemplo, é preciso se preocupar com possíveis interferências provocadas por outros sinais que transitem pelo mesmo ambiente; é preciso ter cautela com a escolha dos transmissores e receptores para que a frequência escolhida não seja inadequada, e também é preciso atentar-se à autonomia da bateria do transmissor, que costuma durar algumas poucas horas, sobretudo em sistemas mais baratos. Até o tipo de encaixe do microfone no transmissor é importante. Fora isso, os transmissores podem não ser tão pequenos e leves assim, principalmente nos casos de sistemas mais baratos, e isso pode dificultar ainda mais. Sendo possível, é melhor evitar esse tipo de solução.

Microfones cabeados costumam ser bem mais baratos e tendem a apresentar bem menos falhas, não dependem de pilhas ou baterias, seu funcionamento não é perceptivelmente influenciado pela presença de dispositivos sem fio, não há qualquer necessidade de equipamentos de emissão e recepção específicos, e quase todos os microfones cabeados têm uma saída de conexão XLR macho (que conecta-se, portanto, ao lado fêmea de um cabo XLR). Apenas alguns poucos casos no mercado se utilizam de uma conexão USB, e as opções que utilizam P2 nem merecem ser consideradas aqui.

Caso você queira praticidade e aceite abrir mão de diversos recursos que viriam a melhorar a qualidade final do trabalho, pode ser interessante optar por microfones USB; contudo, eu raramente recomendo isso, pois os recursos possíveis com vários equipamentos sobre os quais falarei ainda neste artigo (e que dependem de uma conexão XLR, preferencialmente, balanceada) são muito enriquecedores para a qualidade final.

Princípios de Operação (Transdução)

É muito comum fazer algumas associações bastante equivocadas quanto ao que entregará maior qualidade ao resultado final, pensando que determinado princípio de operação fará com que a voz fique melhor ou pior, mas sem levar em consideração toda uma gama de outros elementos; baseando-se apenas na informação de como será essa transdução. Os dois princípios mais comumente utilizados na indústria do som são: dinâmico e condensador. Ambos referem-se a diferentes princípios de funcionamento, ou seja, a diferentes formas do processo realizado pelo transdutor, que é responsável por transformar em um sinal elétrico a onda acústica captada.

Eu não entrarei em detalhes sobre a física por detrás dos princípios de operação, mas os microfones dinâmicos tendem a ser mais robustos, e sua forma de captação bem menos sensível acaba, também, influenciando na característica da voz captada ao final do processo. Esses microfones costumam ser estruturalmente mais robustos e, com isso, suportam cenários bem menos “amigáveis”, além de suportarem ambientes bem mais ruidosos.

Esse é um dos motivos pelos quais os microfones dinâmicos são geralmente preferidos em cenários barulhentos e com potencial reverberação. Contudo, note que quase todos os microfones dinâmicos dependem que se fale bem próximo à capsula, pois eles não conseguem captar bem os sons de fontes sonoras distantes. Se você se distanciar do microfone, notará que a magnitude do som sofrerá uma queda significativa. Em alguns casos, podemos notar que há até quem chegue a tocar os lábios no microfone, de tão perto que a pessoa tenta chegar para alcançar uma potência de entrada maior ou para atingir uma coloração desejada no timbre da voz.

Os dinâmicos também são mais práticos por não serem tão rigorosos quanto à necessidade de acessórios de amortecimentos e filtragens, além de não dependerem de qualquer fonte de alimentação energética extra. Ainda que se esbarre no corpo do microfone (e NÃO nas proximidades do diafragma), desde que seja uma esbarrada sutil, um microfone dinâmico bem construído dificilmente captará isso intensamente; ou, ainda que capte, será suficientemente leve para que talvez ninguém note ou simplesmente ninguém se importe em uma performance ao vivo.

Já os microfones condensadores (capacitivos), por sua vez, de um modo geral, dependem de uma alimentação energética extra, que é entregue pelo famoso Phantom Power, que quase sempre se utiliza dos mesmos 48 V de tensão extra; sem isso, o microfone não conseguirá operar. Há casos com valores de tensão diferentes, mas 48 V é o mais comum em todo o mundo. Os condensadores são extremamente sensíveis! Os mais sensíveis podem captar até mesmo aqueles sons mais sutis, como o de um alfinete caindo ao chão ao fundo da sala, aquela coçadinha na barba, a respiração do locutor, além de tantos outros sons.

Devido a essa enorme sensibilidade, microfones condensadores são fortemente desaconselháveis em ambientes muito ruidosos. De um modo geral, são microfones recomendados apenas para ambientes de gravação que tenham ao menos algum tratamento acústico, ainda que de forma muito amadora, e que se localize em um local sem ruídos externos significativos. Caso passe um veículo automotor próximo à casa da pessoa, o microfone captará; caso um cachorro lata, o microfone captará; se um telefone tocar em outro cômodo, o microfone captará.

O que muitos fazem para administrar isso é reduzir severamente o ganho no pré-amplificador; mas, se não for feito com muita cautela, isso também pode modificar a qualidade final do trabalho, então não é a solução ideal. O bom mesmo é entender que há um microfone certo para cada trabalho, e talvez não seja uma boa escolha optar pelo condensador se o seu ambiente não for conveniente.

Mas, com o pouco que se falou aqui a respeito desses microfones, já conseguimos ter uma ideia sobre qual é mais interessante para cada cenário. Quer gravar um Podcast com mais de uma pessoa presente e a ideia é a de utilizar um microfone por pessoa? Dinâmico. Quer cantar em um palco ao vivo em um ambiente acusticamente inconveniente? Dinâmico. Quer gravar voz com detalhes muito preciosos em várias regiões do espectro? Condensador. Quer poder manter o microfone mais distante e falar mais baixo por alguma razão? Condensador. Quer monitorar detalhes acústicos em um ambiente? Condensador. Quer fazer algum tipo de trabalho de resposta sensorial autônoma do meridiano (ASMR, Autonomous Sensory Meridian Response)? Condensador.

Microfones condensadores também costumam ser muito mais caros, e isso torna tudo ainda mais complicado para quem quer ter resultados mais próximos dos profissionais sem gastar muito. Apenas para se ter uma ideia, alguns dos microfones mais cobiçados entre os dinâmicos estão:

Por sua vez, dentre os microfones condensadores, alguns dos mais cobiçados são:

Se considerarmos que há quem excluiria parte dos últimos microfones dessas listas, podemos dizer que, enquanto os melhores microfones dinâmicos do mundo custam algumas centenas de dólares, os melhores microfones condensadores custam alguns milhares de dólares. Ainda assim, faço questão de reforçar aqui que não se trata de um tipo ser necessariamente melhor que o outro. Condensadores NÃO são necessariamente melhores que dinâmicos; é uma questão de saber qual princípio de captação é mais adequado ao fim a que se destina o microfone que será utilizado, lembrando que o próprio princípio em si não responde tudo.

Imagine o quão horrível seria o resultado de um trabalho com dezenas de pessoas em uma sala sem tratamento acústico, onde seriam gravadas as falas de, digamos, quatro jornalistas que estivessem gravando um Podcast com microfones Telefunken U47, sendo que eles estariam próximos uns aos outros e poderiam falar bem alto e emitir sons atípicos ainda mais elevados, como gargalhadas e gritos. Só em microfones, seriam quase $36000 (USD) de investimento nisso, e o resultado seria um horror. Seria muito melhor se tivessem utilizado, por exemplo, microfones Shure SM58, que totalizariam menos de $440 e entregariam um resultado bem mais agradável, pois permitiriam ouvir as vozes dos quatro jornalistas sem tanto ruído de fundo, e essas vozes, justamente por estarem muito mais realçadas com os SM58, poderiam ainda passar por ajustes com outros equipamentos que ajudariam a entregar um resultado ainda mais agradável ao final.

Por outro lado, imagine que o trabalho em questão seja o de captar os sons do ambiente de trabalho de um profissional que faça restaurações mecânicas, e que a ideia seja a de captar apenas os sons produzidos pelo manuseio dos equipamentos, das ferramentas e das peças; nada de voz, mas, também, sem qualquer música de fundo para tentar mascarar ruídos de fundo. Em um cenário assim, seria muito mais aconselhável o uso de pelo menos um microfone condensador bem posicionado.

A brincadeira começa a se complicar ainda mais quando passamos a considerar os acessórios, que são tão necessários em diversos cenários distintos. Falaremos sobre eles agora.

Acessórios de microfones

Apesar de os microfones terem algumas proteções e, aos olhos de certos fabricantes, virem “prontos” para serem utilizados, nem sempre é possível fazer um bom uso sem o auxílio de alguns acessórios, que ajudarão a transformar a qualidade do trabalho em algo bem mais conveniente. Entre os acessórios, os mais comuns são: o Shock Mount (também conhecido como “aranha”), o Pop-Filter, o Wind Screen (em geral, uma simples espuma) e o Dead Cat.

O Shock Mount é um sistema de amortecedores que ajuda a atenuar significativamente os potenciais balanços que o microfone poderia sentir com movimentações do suporte no qual o microfone estaria preso. Esses movimentos, seguramente, poderiam ser captados pelo microfone, e isso produziria um efeito bastante desagradável aos ouvidos; seria uma forte fonte extra de ruído.

Embora também seja entendido como um acessório de microfone, o cachimbo não será abordado aqui porque ele não chega a ser propriamente um acessório que almeja melhora em resultados; está mais para um adaptador necessário para encaixar o microfone ao pedestal ou outro suporte que seja. Além disso, o cachimbo é substituído pelo uso do Shock Mount em casos de microfones de estúdio; isso só não é verdade no caso de certos microfones com estruturas diferentes, com a maioria dos de mão, sobre os quais falaremos mais à frente.

O Pop-Filter é um filtro mecânico que atua como uma barreira para o deslocamento da grande massa de ar empurrada pela boca do locutor ao falar em direção à cápsula (ou diafragma) do microfone. Como qualquer mínima vibração no microfone já pode ser captada, principalmente se for um microfone condensador, não é bom deixar o microfone exposto. Em geral, os microfones já vêm com uma proteção (geralmente, metálica) ao redor de seu centro de captação, mas isso nem sempre é suficiente para boa parte dos casos. Microfones dinâmicos geralmente não sofrem muito com isso, então não costuma ser necessário utilizar Pop-Filter para eles; já os microfones condensadores, que são bem mais sensíveis, quase imploram pelo seu uso, dependendo de como for a aplicação e como for o estilo de fala do locutor. Costuma ajudar muito na pronúncia de palavras com B ou P, que geralmente empurram mais ar em direção ao microfone. E muito cuidado ao pensar que aquela tela ao redor do microfone condensador já seria uma boa solução de Pop-Filter, porque, a bem da verdade, ao menos na maioria dos casos, não chega nem perto de funcionar tão bem quanto os melhores modelos de Pop-Filter dedicados, sejam os de tecido, sejam os de metal.

Os Wind Screen, que geralmente são conhecidos apenas como uma espuma a ser colocada no microfone como se fosse uma capa protetora que veste o microfone, podem funcionar como um tipo de Pop-Filter também; contudo, costumam ser mais agressivos do que o Pop-Filter em termos de filtragem acústica. E, sim, isso significa que o uso de qualquer um desses recursos acaba, de alguma maneira, interferindo na característica do áudio captado; e, como se trata de algo que interfere no áudio logo que chega ao próprio microfone, não é algo facilmente tratável depois, pois a própria informação original que chega ao sistema já chega com certas regiões afetadas. Mas você não precisa ficar preocupado demais com isso para aplicações não muito exigentes, pois é algo que só alguns dos melhores ouvidos chegam a notar, e isso raramente chega ao ponto de incomodar até mesmo essas pessoas; só evite utilizar materiais de baixa qualidade para economizar onde não se deve.

O Dead Cat, por sua vez, é muito similar ao Wind Screen, mas ele é consideravelmente mais agressivo; ou seja, não utilize um Dead Cat, a não ser que você esteja gravando em um local externo com muito vento, como em alto mar, ou em uma montanha, ou em uma cachoeira. Para gravações exclusivamente em local fechado, esse é um acessório que eu considero simplesmente desnecessário. Eu só abriria uma exceção se fosse para gravar em um local fechado onde não houvesse ar condicionado e, para ventilar, houvesse vários ventiladores fortíssimos que ficassem soprando justamente em direção ao microfone; aí, sim, o Dead Cat poderia vir a calhar.

Embora também sejam considerados acessórios, deixarei para falar a respeito dos pedestais e demais suportes a seguir.

Pedestais e Suportes

A não ser que você opte por certos tipos muito específicos de microfones, a maior parte dos tipos de microfones que você provavelmente escolherá para trabalhar com gravações em local interno depende de algum pedestal ou outro suporte que sirva para manter o microfone fixo e posicionado de forma conveniente. Por isso, separei uma pequena seção para falar a respeito desse acessório tão importante para seu microfone.

Apesar de haver outros tipos de microfones que também poderiam ser utilizados para as finalidades abordadas no foco deste artigo, o principal é o microfone de estúdio, e esse tipo de microfone, em geral, depende de algum tipo de suporte para apoiá-lo, seja sobre a mesa, seja sobre o chão. Pedestais são o tipo mais comum e conferem maior liberdade para certos tipo de gravação, pois não dependem de uma mesa ou outro tipo de superfície que não seja o próprio chão. Como muitos tipos de gravação são mais adequadamente realizados com a pessoa em pé, principalmente pela influência da respiração e do comportamento do diafragma da pessoa, além de isso ajudar a pessoa a se manter mais distante de superfícies que possam reverberar, pedestais podem ser mais aconselháveis nesses casos.

Existem muitos pedestais diferentes no mercado, mas todos têm objetivos bastante similares. A ideia continua sendo a de apoiar um microfone, preferencialmente, com algum controle de altura e angulação. O que pode mudar muito de um pedestal para outro é a qualidade do material utilizado, a durabilidade e a praticidade com que certos ajustes são realizados, a estabilidade após o ajuste etc. No caso de microfones de estúdio, ainda mais por serem tipicamente maiores e bem mais pesados, é importante tomar cuidado com a carga (“peso”) que o pedestal suporta na posição que você precisará mantê-lo e pelo tempo que tiver de mantê-lo dessa forma. É muito desagradável utilizar um pedestal que fica instável, correndo o risco de tombar, e dependendo de contrapesos e gambiarras para se manter no lugar, e lembre-se de que, devido ao fato de os microfones serem tipicamente sensíveis, é bastante improvável que o microfone caia ao chão e continue plenamente intacto, sem sequer um único arranhão, e funcionando como se nada tivesse acontecido; são poucos os microfones no mercado que seriam capazes disso, e ainda assim seria melhor evitar, é claro.

Outro problema dos pedestais é que, ainda que falemos apenas dos mais profissionais, eles tendem a ocupar muito espaço no ambiente. Para garantir uma boa estabilidade, mesmo que sejam utilizados microfones pesadíssimos e com vários acessórios embutidos, o que aumenta ainda mais o peso na ponta do pedestal, a própria geometria da base acaba dependendo de uma boa área ocupada para haver segurança e confiabilidade. Por isso, se o seu espaço for pequeno demais, talvez essa seja uma opção pouco desejável.

Agora, os pedestais, principalmente nos casos de trabalhos que serão realizados com a pessoa em pé, acabam sendo muito mais convenientes. E trabalhar em pé é, sim, algo mais conveniente em aplicações mais rigorosas de certas gravações. Manter-se longe de superfícies, sobretudo as mais planas e lisas, é algo que ajuda demais a reduzir efeitos de reverberações, então o trabalho em pé, longe das paredes e longe do chão, pode ajudar a entregar resultados melhores.

Para fins de gravações menos rigorosas e para trabalhos mais longos, como provavelmente você poderá (e quererá) trabalhar sentado, pode ser muito mais confortável optar por algum tipo de suporte de mesa. Os tipos mais comuns de suportes de mesa são o braço articulado e o suporte de base. O braço articulado geralmente é preferido pela maior parte do público porque confere uma liberdade de movimentação muito mais ampla, e alguns até gostam do “ar” profissional que a estética desse braço acaba conferindo a alguns ambientes. Contudo, essa solução também tem alguns problemas.

Um dos problemas do braço articulado é a necessidade de se prender à mesa. Apesar de haver alguns suportes que permitem ser parafusados à mesa, ou mesmo utilizando um furo para colocar a base giratória de apoio, sabemos que poucas pessoas optam por esse caminho; a maioria ainda prefere prender o suporte com uma garra (“sargento”, “morsa” ou “jacaré”) na borda da mesa, o que permite mudar de lugar e ainda não precisará fazer qualquer furo; é só apertar a presilha. O problema é que nem todas as mesas são tão convenientes para se prender esse tipo de presilha; há mesas em que isso é simplesmente inexequível, pois possuem bordas espessas demais, ou são sensíveis demais para se permitir prender com uma garra dessas, ou são mesas com pouquíssimo espaço para isso.

Outro problema dos braços articulados, neste caso, para aqueles que farão também a gravação em vídeo, é que eles podem ocupar um espaço muito significativo da cena se não forem muito bem pensados quanto a como serão posicionados em relação ao ponto de captura da câmera, e isso pode ser mais desagradável do que parece. Dependendo de como for feito o trabalho, o braço articulado pode acabar “roubando” a cena toda, a ponto de cobrir um percentual enorme do rosto e do corpo do locutor. Se a imagem da pessoa em questão for muito importante — e, geralmente, se a pessoa estiver sendo filmada, é esse o caso — , isso pode ser um problema mais grave do que talvez aparente ser. Imagine como seria um vídeo em que você veria apenas metade do rosto do apresentador, pois a outra metade estaria coberta pelo braço e pelo microfone. Péssimo, não?

E não podemos deixar de lado um outro problema comum enfrentado por algumas pessoas que se utilizam de braços articulados: o desconforto em caso de mesas pequenas e braços articulados relativamente curtos. Se sua mesa for pequena demais, você pode ter de posicionar o microfone logo ao seu lado, e isso pode prejudicar muito em casos de gesticulação, ou mesmo no caso de você precisar de espaço para usar um mouse com baixa sensibilidade sobre um Mousepad muito grande ao lado de um teclado completo (com teclado numérico).

Nesses casos, o mais aconselhável seria apoiar o braço na parte traseira da mesa, mas isso nem sempre é possível, e pode atrapalhar a visão dos monitores. Aliás, se o braço for curto demais, pode acabar sendo preciso manter o microfone muito alto, e isso pode prejudicar bastante a questão da praticidade do uso. Em vez de ficar mais próximo à boca, a posição do microfone pode acabar demandando que você fique com o pescoço em uma posição desconfortável e o obrigue a olhar quase que para cima para que a captação fique boa. E insisto que isso acaba prejudicando muito a visão que você deveria ter livre para os seus monitores do computador.

Entendam que eu não estou dizendo que o braço articulado seria uma escolha ruim; eu mesmo utilizo para vários trabalhos e, para esses trabalhos, eu não trocaria por um pedestal ou por um suporte de base de modo algum. Só é preciso tomar cuidado para não deixar o braço articulado roubar muito a cena e para ele não prejudicar muito o seu próprio conforto e a usabilidade da mesa.

Outra alternativa muito interessante, embora seja também a mais simples de todas, é o suporte de base, que nada mais é do que uma base, que tanto pode ser pesada (as boas costumam ser de metal) quanto pode ser com múltiplos pés de apoio dispostos de um modo geometricamente conveniente (quase sempre, com três pés de apoio), e que possui uma pequena barra vertical com uma rosca na ponta para permitir que ali seja colocado ou um cachimbo ou um Shock Mount. Pode parecer a solução menos profissional, mas há muitos casos em que se torna a mais conveniente. O seu único problema é que ela ocupa um pequeno espaço na mesa. As boas bases podem ser mais estáveis do que aparentam, e sua simplicidade costuma mais ajudar do que atrapalhar, além de permitir que o microfone fique em um local que ajuda muito quem prefere olhar para frente ou, principalmente, levemente para baixo.

Que tal agora falarmos sobre a resposta em frequência dos microfones?

Resposta em frequência

Como você já deve saber, microfones não são todos iguais, mas o que os torna tão diferentes entre si? Poderíamos gastar muito mais linhas discutindo sobre isso, mas vamos focar no diz respeito às características sonoras mais populares que serão obtidas ao final; refiro-me àquelas que geralmente são descritas de formas que parecem até poéticas, como o quão “profunda”, “brilhante”, “encorpada”, “presente”… a voz soa com o microfone X.

Mesmo se falarmos dos microfones de um mesmo segmento, ainda que sejam projetados e fabricados pela mesma empresa, e por mais que utilizem todo o resto do Setup igual, os resultados podem ser surpreendentemente distintos, “apenas” por mudar o microfone. Por que será que isso ocorre, não é mesmo? Apesar de haver uma infinidade de explicações longas e complexas de áreas de microeletrônica, telecomunicações e linguística para que assim o seja, não vamos tratar disso dessa maneira; vamos, ao menos por agora, nos concentrar apenas no que é conhecido como Resposta em Frequência do microfone.

A resposta em frequência pode ser entendida como uma representação gráfica de ganho (ou atenuação) do microfone em cada região espectral de sinais que por ele sejam captados. Em geral, como a audição humana encontra-se, aproximadamente, entre 20 Hz e 20 kHz, os microfones projetados para as finalidades abordadas neste artigo costumam trabalhar aproximadamente nessa mesma faixa, então é mais ou menos nessa mesma faixa que veremos os diagramas de resposta em frequência destes microfones.

No diagrama de resposta em frequência, podemos compreender que ao longo do eixo horizontal encontram-se as regiões espectrais (em frequência); no eixo vertical, a resposta relativa (geralmente, em dB). Para cada região, deve-se observar a resposta relativa e, com isso, será possível saber se essa região observada recebe uma atenuação, uma preservação ou um ganho de potência. Valores negativos indicam o quanto a potência de saída, captada pelo microfone, será inferior (em dB) à potência de entrada, produzida pela fonte sonora; valor igual a zero indica que a potência de saída será igual à potência de entrada; e, por fim, valores positivos indicam o quão mais intensa (em dB) será a potência de saída em relação à potência de entrada.

Apenas para termos uma ideia, uma potência relativa de -3 dB indica que o sinal de saída terá, aproximadamente, metade da potência de entrada; de -6 dB, será cerca de um quarto da potência de entrada; de -9 dB, terá perto de um oitavo da potência de entrada; e por aí vai. De forma análoga, a potência relativa de +3 dB entrega, aproximadamente, o dobro da potência; +6 dB, o quádruplo; +9 dB, o óctuplo; e assim segue. E, como já havia dito, se a potência relativa for 0 dB, isso significa que a potência de saída (captada pelo microfone) será a mesma que a potência de entrada (produzida pela fonte). Vamos tentar entender um pouco do que isso significa.

Podemos dizer que frequências mais baixas representam sons mais graves, frequências mais altas representam sons mais agudos, enquanto frequências intermediárias representam os médios. Considerando isso para a análise de um diagrama de resposta em frequência, podemos avaliar o quanto o microfone privilegia ou atenua cada região do espectro. Isso ajuda a avaliar se certo microfone tenderá a valorizar mais algumas determinadas regiões em detrimento das demais, permitindo ter uma noção a respeito da possibilidade de tal microfone conferir um som mais rico em regiões mais graves, médias, ou agudas.

Cuidado para não pensar que microfones que indicam uma maior valorização das frequências mais baixas farão com que a voz de uma soprano se transforme em uma voz de um barítono, pois NÃO é assim que funciona. Apesar de os resultados poderem sofrer significativas mudanças, elas não são tão extremas assim. Ainda assim, de fato, microfones cuja resposta em frequência sejam dessa forma tenderão a valorizar um pouco mais a porção mais grave da potência da voz, mas para que essa porção mais grave da voz possa ser valorizada, primeiro ela precisa estar naturalmente presente.

Também é preciso não cometer o equívoco de pensar que microfones cuja resposta em frequência privilegiem certas regiões de frequências mais altas “afinarão” a voz do locutor, ou seja, que deixarão a voz aguda; afinal, também não é bem isso que ocorre. Em vez disso, haverá uma valorização do brilho e da presença da voz, o que pode ser muito agradável em diversos cenários. Contudo, como havia dito no caso anterior, isso ocorre pelo fato de a voz natural da pessoa ter uma parcela referente a frequências mais altas já presente.

Essas características todas devem ser avaliadas com muita cautela, considerando-se: o ambiente de gravação, a voz do locutor que utilizará o microfone, os demais equipamentos utilizados no processo de gravação e, também, os objetivos a serem alcançados com o trabalho a ser desenvolvido. A voz natural de Leo Laporte, por exemplo, é significativamente grave e “profunda”, e ele utiliza um microfone Heil PR-40, que possui uma resposta em frequência que, notavelmente, valoriza bastante uma porção significativa das frequências mais altas; no entanto, qualquer um que ouça seus trabalhos perceberá que sua voz, definitivamente, não soa aguda e estridente. Continua sendo uma voz grave, “macia”, “aveludada”, “encorpada” e “profunda”. Mais do que isso, ainda em seu próprio programa, Leo costuma trazer convidados que, em alguns casos, também se utilizam do mesmo microfone, mas absolutamente nenhum deles apresenta uma voz com um timbre que sequer chegue a lembrar a voz calorosa de Leo. Muitos até poderiam alegar que se trata de configurações distintas em outros equipamentos, mas, neste caso, isso é devido, principalmente, às próprias características naturais das vozes das pessoas, e não apenas de equipamentos.

Para evitar problemas, prefiro não mencionar nomes nesta parte, mas existe uma infinidade de Streamers, YouTubers e Podcasters que, pensando que passariam a ter uma voz super grave e “autoritária” — e isso foi dito por eles mesmos, então não é suposição minha — , adquiriram microfones muito famosos no mercado internacional desses segmentos, como o Shure SM7B, o Electro Voice RE20, o Blue Kiwi, ou mesmo o Neumann TLM 103; contudo, com uma enorme facilidade, podemos perceber que suas vozes NÃO soam com essas características, e seria até muito esquisito se soassem! A bem da verdade, em alguns casos, chega a ser até uma tristeza, porque a pessoa investiu uma pequena fortuna — ainda mais se ela tiver comprado após o início da pandemia — em seus equipamentos pensando que isso “reformaria” sua voz, mas acabou obtendo simplesmente uma voz “normal”, embora talvez esteja um pouco mais detalhada.

Com base no que foi dito no parágrafo anterior, vale sempre ter em mente que, caso você já tenha uma voz preparada e com características naturalmente agradáveis aos seus ouvidos — tomando só o cuidado de NÃO pensar (erroneamente) que o som que você ouve de sua própria voz a partir da sua própria caixa craniana, supostamente, seria a da mais fiel representação de sua voz, pois NÃO é esse o caso — , de fato, utilizar certos microfones ajudará muito a obter uma versão que esteja mais próxima a uma que o agradará; contudo, caso sua própria voz natural não seja agradável a você — lembrando sempre do cuidado mencionado sobre a equivocada interpretação a partir de sua própria caixa craniana — , não será o microfone que, magicamente, transformará sua própria voz em uma voz que o faça sentir orgulho de si.

Voltando um pouco mais à parte um pouco mais técnica, observe a figura que exemplifica o diagrama de resposta em frequência no início desta seção. Note como tudo o que está abaixo de 50 Hz sofre uma atenuação de ao menos 10 dB; o que está na região entre 50–100 Hz sofre atenuação entre 5–10 dB; entre 100–200 Hz, atenuação entre 5–0 dB; entre 200–2000 Hz é quase totalmente “plano”, o que quer dizer que quase não há atenuação ou ganho; entre 2000–15000 Hz, em vez de atenuação, note que há um ganho de até cerca de 6 dB; e, para toda a região acima de aproximadamente 15 kHz, onde volta a haver atenuação em vez de ganho, há uma atenuação de até aproximadamente 8 dB.

Com isso, considerando esse microfone hipotético, podemos dizer que trata-se de um microfone que valoriza certas regiões mais agudas, que podem ajudar a entregar uma voz com mais presença e brilho, mas sem prejudicar o corpo ou mesmo as porções mais graves da voz. Apesar de haver uma severa atenuação moderadamente elevada entre 100–200 Hz e, também, uma atenuação bastante significativa abaixo de 100 Hz, essas regiões espectrais já não estão tão intensamente relacionadas às frequências tipicamente mais produzidas pela voz humana natural, e podem até mesmo incluir uma parcela significativa de alguns ruídos característicos dos próprios equipamentos ou do próprio ambiente de gravação e, portanto, é uma região que mais atrapalha do que ajuda a melhorar o resultado final.

E, também, tome cuidado para não pensar que o “microfone ideal”, supostamente, deveria ser “flat”, ou seja, com uma resposta em frequência relativamente homogênea, não conferindo atenuação ou ganho em qualquer região espectral, pois esse caso apenas faria com que a voz capturada fosse tal qual a voz original; ou seja, haveria alta fidelidade de áudio na captura da voz por parte do microfone; ainda assim, note que isso não garante que a voz soaria como você gostaria. Há certas características indesejadas de sua voz que seriam tão bem capturadas quanto as mais desejadas e, também, ao contrário do que você gostaria que ocorresse, haveria características altamente desejadas que simplesmente não seriam valorizadas. Logo, o resultado final provavelmente não seria o que você gostaria, mesmo com essa alta fidelidade de áudio por parte do microfone. Esse engano que as pessoas cometem tem relação com um erro conceitual sobre o que se entende por “alta fidelidade”, pois as pessoas pensam que “alta fidelidade” é sinônimo de “áudio de um jeito que me agrada”, o que é um equívoco enorme.

Mas agora pode ser interessante entendermos um pouco mais sobre mais uma característica dos microfones; mais especificamente, sobre os padrões de captação.

Padrões de Captação

É essencial compreender as direções de captação dos microfones para fazer uma boa escolha. O microfone que capta igualmente em todas as direções é conhecido como Omnidirecional. Costumam ser muito bons para aplicações que envolvem poucos microfones captando muitas diferentes fontes sonoras, como microfones que ficarão em uma região central em uma roda de amigos e que captarão todos os presentes em um único canal. O lado ruim desses microfones é a sua alta susceptibilidade à captação de ruídos advindos de fontes indesejadas, dado o fato de não fazerem distinção quanto à direção de onde o som venha.

Microfones direcionais podem ser mais indicados em ambientes onde haja possíveis fontes sonoras indesejadas. É muito comum referir-se a esses microfones pelo termo Cardioide, que é o tipo de curva que indica a forma do padrão de captação, e referindo-se também ao formato que lembra o de um coração, exceto pelo fato de que essa curva não possui uma ponta (ou uma cauda). Esse tipo de padrão capta muito bem o que vem pela frente do microfone, e até um pouco do que chega pelas laterais, mas ignora quase que por completo o que chega por detrás dele. É um dos tipos mais convenientes para quem quer direcionar muito bem a captação para a boca de um locutor, mas ainda captando um pouco do som ambiente em uma pequena parcela das bordas frontais.

Outros dois padrões de captação muito parecidos com o Cardioide são: o Supercardioide e o Hipercardioide. Ambos fazem captações frontais bastante significativas e oferecem a vantagem de um maior afunilamento frontal no padrão, o que faz com que haja uma maior diretividade à captação e, com isso, uma redução na captação de sons laterais; contudo, pode haver casos cuja captação traseira ainda se faça presente com alguma intensidade. Para ambientes acusticamente trabalhados quanto à atenuação de ruídos e a tratamentos de reverberação, esses podem ser alguns dos melhores padrões de captação.

E mais um padrão de captação que vale muito a pena ser mencionado aqui é conhecido como Figura de Oito, que é assim chamado justamente por lembrar o desenho de um número oito. Ele faz tão bem a captação frontal quanto faz a captação traseira, e de maneira ainda mais afunilada do que os outros padrões anteriormente mencionados aqui. É um tipo de padrão de captação muito conveniente para quem quer, por exemplo, deixar o mesmo microfone entre duas pessoas e captar ambas com a mesma intensidade.

Alguns microfones permitem que o usuário escolha qual será o padrão de captação que eles utilizarão, mas isso nem sempre está disponível. Vale ressaltar aqui que, ainda que o microfone permita a escolha de mais de um padrão de captação, nem sempre haverá muitos padrões disponíveis; é possível que haja apenas dois, por exemplo. De qualquer maneira, quase sempre um dos padrões será o Cardioide ou o Hipercardioide. Escolha cautelosamente o tipo de microfone também levando isso em consideração. Caso não saiba qual escolher, prefira o Cardioide.

Vale lembrar que o padrão de captação, apesar de ser extremamente importante, não define, por si só, tudo sobre o microfone. Existem vários tipos de microfones que podem ter o mesmíssimo padrão de captação. Então pode ser interessante falarmos agora sobre alguns desses tipos.

Tipos de Microfones

Mais especificamente sobre os microfones para casos que dependem de maior mobilidade, um bom microfone de Lapela seria o mais recomendável; mas, caso você mexa muito a cabeça, pode ser mais aconselhável optar por um microfone do tipo Earset ou Headset. Só não confunda esses tipos de microfones com aqueles que são popularmente vendidos em lojas de produtos de informática e lojas de jogos digitais. Esses aos quais eu me refiro não acompanham fone de ouvido; há apenas o microfone com uma estrutura que permite apoiá-lo em sua orelha ou em sua cabeça, geralmente, passando por trás da cabeça com um apoio que se firma nas duas orelhas e, em um único lado, fica o microfone, que desce até a lateral da boca.

Tanto o microfone de lapela quanto os Earsets e os Headsets permitem uma grande locomoção, e todos esses o deixarão com suas mãos livres, o que é muito bom para quem gosta de gesticular bastante, ou mesmo para quem precisa manusear algum equipamento, livro, dispositivo apresentador de Slides e afins. É muito conveniente utilizar um microfone como esses quando se pretende realizar um evento de longa duração, pois pode-se simplesmente ignorar o microfone e focar na fala em si. Para esse tipo de microfone há tanto os com padrão de captação omnidirecional quanto os com padrão direcional (cardioide, hipercardioide ou supercardioide).

Outro tipo de microfone muito amplamente utilizado, é o microfone de mão. Ele geralmente confere uma qualidade de áudio um pouco superior a quem precisa ter a liberdade para direcionar bem a captação do áudio de acordo com a fonte de seu interesse. É muito conveniente utilizar um microfone de mão quando se pretende entrevistar várias diferentes pessoas; facilita muito na hora de mudar a direção de captação entre as bocas dos entrevistados.

Um dos problemas do microfone de mão é ser relativamente pesado, então pode cansar se precisar segurá-lo por muito tempo. Na maior parte das vezes, esses microfones são direcionais; desta forma, caso o microfone não esteja bem direcionado para a boca do locutor, a captação pode ser bastante prejudicada. Uma leve movimentação já pode prejudicar. Felizmente, apesar de serem microfones projetados para permitir uma relativa mobilidade e a flexibilidade sobre o controle da direção de captação (para onde a cápsula for apontada), esses microfones podem ser facilmente apoiados em um pedestal, ou algum outro suporte, com o auxílio de um cachimbo.

O tipo mais comum para os trabalhos a respeito dos quais estamos tratando aqui são simplesmente chamados de microfones de estúdio ou microfones de mesa, embora esse último nome não seja muito apropriado por gerar ambiguidade com alguns outros tipos de microfones, como o famoso microfone Gooseneck, que é, de fato, de mesa e quase sempre acompanha uma base própria para mantê-lo apoiado sobre a mesa sem depender de um suporte ou um pedestal dedicado. Os microfones de estúdio costumam ser grandes e pesados, e devem permanecer em algum pedestal ou suporte, pois não são feitos para ficar nas mãos das pessoas.

Os microfones Boom (também conhecidos como “Shotgun”, apesar de o termo Shotgun ser normalmente associado a um padrão de captação de mesmo nome) também podem ser boas pedidas em certos cenários. Idealmente, a ideia desse tipo de microfone, que é altamente focado em sua diretividade, é a de NÃO aparecer nas cenas de filmagem; porém, diferente do que muitos colegas parecem pensar, esse microfone NÃO deve ficar distante demais da fonte sonora. Falarei mais sobre isso a seguir, onde tratarei mais sobre a questão da distância entre o microfone e a boca.

Distância e posicionamento entre o microfone e a boca

Calma, pessoal, nós não vamos começar a puxar trenas, réguas, fitas métricas, paquímetros ou micrômetros aqui, nem passarei quantos milímetros o microfone deve ficar exatamente em relação à sua boca, ou algo do tipo. Eu só darei uma noção a vocês para o caso de realmente não terem noção alguma. Quem tem uma mínima ideia a respeito disso não precisa se preocupar com isso, porque falarei apenas o básico aqui, assim como em quase todo o artigo.

Para cada tipo de microfone, existe todo um conjunto de detalhes a respeito de como posicionar e como se portar em relação ao microfone para entregar um resultado um pouco mais adequado. Vamos a alguns deles, mas falarei de forma bastante breve sobre cada um, tal como segue:

Ainda a respeito da distância entre o microfone e a fonte sonora (neste caso, a boca), um aviso: de um modo geral, quanto maior for a distância entre o microfone e a fonte sonora, mais evidentes serão os problemas da acústica do seu ambiente de gravação. Assim, um “truque” que algumas pessoas utilizam para reduzir um pouco os efeitos indesejados de uma acústica ruim é procurar deixar o microfone um pouco mais próximo. O problema de se fazer isso é que também existem problemas ao se falar próximo demais do microfone, como o uso inadequado Proximity Effect que pode tornar a característica do áudio incompatível com o tipo de trabalho realizado, além da maior chance de saturação do canal e de uma possível intensificação da sibilância.

Agora, falarei sobre algumas especificações que são apresentadas para descrever características dos microfones.

Entendendo algumas especificações de microfones

Eu não considero essencial que você compreenda qualquer uma dessas especificações para que você tenha um bom aproveitamento deste artigo, mas deixarei algumas noções por aqui.

Com isso, podemos considerar que boa parte das informações necessárias a se saber acerca dos microfones já foi até aqui trazida e, com isso, podemos passar a abordar brevemente sobre os demais equipamentos. Vamos começar com aquele que, após o microfone, é o mais importante equipamento: a interface de áudio.

Interface de Áudio

Vamos começar nos lembrando do fato de que a esmagadora maioria dos microfones de qualidade minimamente satisfatória para aplicações que sejam ao menos semiprofissionais utiliza conexão XLR. A conexão XLR é padrão na indústria do áudio. Quase todos os principais equipamentos de áudio para estúdios utilizam conexões XLR. E aqui, simplesmente com isso, já temos um problema: independentemente de ser um Smartphone, um Tablet, um Laptop, um Desktop ou um Rack Server, o seu computador não possui uma entrada XLR; então, como conectar o seu microfone ao seu computador? É aí que entra o papel da interface de áudio.

Já, logo de cara, deixarei várias recomendações de interfaces de áudio USB para vários bolsos, níveis de exigência e cenários (com diferentes números de microfones):

Ainda assim, sei que haverá quem dirá que essas interfaces ainda não são acessíveis e que gostariam de uma sugestão para começar com algo mais barato. Já aviso que não estamos falando de algo com o mesmo nível de qualidade, mas, só para não deixar de sugerir algo, sugerirei uma interface bem simples que encontramos por aqui, no Brasil, por cerca de R$400,00, que é a Arcano IT-2; mas, eu repito: não tem o mesmo nível de qualidade que as que eu acabei de citar; nem mesmo comparável ao da mais barata da lista.

Portas de conexão

A interface de áudio (muitas vezes chamada simplesmente de “conversor”) é uma espécie de placa de som, que hoje em dia é geralmente externa. Embora haja outras aplicações, note que a essência da motivação do uso de uma interface neste caso se encontra justamente na capacidade de jogar para dentro do computador o sinal de áudio captado pelo seu microfone. Devido à importância dessa aplicação essencial, muitas empresas classificam as interfaces de acordo com quais são as portas que se comunicam com o computador. Em termos de interfaces de áudio, as principais vias de conexão com o PC são: USB, FireWire e Thunderbolt, mas há alguns casos raros com conexão Ethernet (RJ-45).

Vale lembrar que P2 e P10 não podem ser consideradas para isso, pois, apesar de praticamente qualquer computador possuir P2 e alguns casos (devido a placas de som dedicadas) também possuírem a porta P10, essas portas não permitem o controle do equipamento completo da interface; por essas portas há apenas a transmissão direta do áudio. Por outro lado, utilizando alguma das demais portas mencionadas anteriormente, o computador passa a reconhecer o equipamento completo da interface de áudio tal como uma placa de som dedicada, que é mesmo do que se trata; então, com isso, passa a ser possível escolher em seu sistema operacional que aquele equipamento é a sua entrada de áudio e, também, que aquele equipamento é a sua saída de áudio.

Apesar de toda essa aplicação, a bem da verdade, a porta FireWire está caindo em severo desuso já há alguns anos; a porta Thunderbolt, por melhor que seja, existe apenas em uma parcela das interfaces, sendo equipamentos bastante caros; e é raríssimo encontrar alguma interface que opere com Ethernet ou outra porta que não seja USB. Muitas interfaces que trabalham com Thunderbolt também possuem uma porta USB. Por conta disso, em quase todos os casos de interfaces de áudio, existe a possibilidade de se trabalhar com USB. Entendam que não estou dizendo que USB é a melhor porta de todos os tempos; em muitos aspectos pode ser vantajoso utilizar Thunderbolt, ou Ethernet, ou mesmo diretamente a conexão via PCI, que eu nem havia mencionado até aqui, de tão incomum que é dentre as mais comumente exploradas opções com finalidades similares às discutidas aqui.

Assim, fica mais fácil compreender que aquele equipamento que é a interface de áudio pode ser entendido como uma placa de som que fica fora do computador e que, a partir dela, é possível conectar dispositivos de fontes sonoras que dependem de entradas que, apesar de talvez serem comuns para aplicações de áudio profissional, são nativamente estranhas para um computador convencional, e é principalmente esse problema que a interface ajuda tanto a resolver.

As portas de entrada mais comuns em uma interface são: XLR, que é a que a maior parte dos microfones profissionais utiliza; e P10, que muitos microfones utilizam, mas recomendo evitar para estas aplicações. Existem várias outras portas possíveis, mas não são tão interessantes para as aplicações aqui trabalhadas.

Em relação aos cabos, não entrarei em grandes detalhes; apenas utilizem cabos XLR (uma ponta Macho; a outra, Fêmea) que, necessariamente, sejam balanceados e com uma boa construção. Recomendo que procurem ter cabos de reserva, pois nunca se sabe quando algum deles pode apresentar falhas, e você não vai querer ficar na mão. Sempre tenha ao menos um cabo relativamente longo, para o caso de querer se distanciar bastante dos seus equipamentos por alguma razão.

Phantom Power

Conforme já mencionado neste artigo, alguns microfones, como é o caso dos condensadores (mas NÃO o dos dinâmicos), podem demandar uma alimentação energética extra, tipicamente de 48 V, que é o caso do Phantom Power; caso você tenha intenções de utilizar um microfone que dependa do Phantom Power, garanta que sua interface possui esse recurso. Atualmente, é raríssimo que uma interface não tenha tal recurso, mas é bom conferir para garantir.

Se você tiver acesso a uma interface que não disponha do Phantom Power, saiba que não há necessidade de trocar sua interface apenas para passar a ter esse recurso; existem equipamentos dedicados a atuar com essa finalidade e, devido à sua simplicidade, não são caros; contudo, hoje em dia podem já não ser mais tão fáceis de encontrar porque é cada vez mais raro encontrar interfaces que não acompanhem tal recurso já nativamente.

Amostragem e Quantização

Um outro aspecto importante sobre as interfaces de áudio está nas informações de amostragem e quantização de sua placa. A frequência de amostragem (em Hertz) e a quantização (em bits) são algumas das principais informações a respeito da qualidade que a interface conferirá ao trabalho final. Não entrarei em detalhes a respeito dessas questões, mas já aviso que pode ser interessante estudar um pouco sobre sua influência. Sugiro que tentem compreender o Teorema de Nyquist-Shannon da Amostragem e estudem um pouco sobre Headroom.

Mas eu não deixarei de informar aqui que o mínimo necessário para entregar uma qualidade decente para as aplicações aqui abordadas é 32 kHz e 16 bits; ainda assim, recomendo, se possível, que seja utilizado para gravações mais rigorosas a configuração de 96 kHz e 24 bits. De qualquer forma, um padrão comum para aplicações de voz é 48 kHz e 24 bits, que é o que eu recomendo, e outro é 48 kHz e 16 bits.

Monitoração

Ao se trabalhar com áudio, não há como garantir que a gravação — seja ela transmitida ou simplesmente armazenada no computador — seja realizada inteiramente sem falhas e com a qualidade que se desejaria. É perfeitamente possível que ocorram falhas em alguns momentos. Para as aplicações aqui focadas, em geral, mesmo que haja falhas, desde que pontuais e pequenas, não há motivo para pânico, mas é preciso ter ciência de que tais falhas ocorreram e é preciso que se saiba exatamente o que ocorreu e quando ocorreu, inclusive para que seja possível evitar que ocorra novamente.

Para saber se o áudio está com algum problema, o único modo humanamente realizável é ouvindo-o por completo, mas, graças à interface, você não precisa aguardar pelo término da gravação para, só então, saber se está tudo no lugar. A interface permite que, no mesmo instante exato em que se está gravando, com o auxílio de um fone de ouvido, seja possível ouvir sem latência — ou, para ser mais rigoroso, com uma latência extremamente baixa—o que está sendo gravado. Sabemos que um computador já permitira esse mesmo recurso de se ouvir, mas não seria com uma latência assim tão baixa, e esse efeito é extremamente prejudicial ao trabalho de monitoração, podendo interferir severamente na qualidade do trabalho final, pois a própria forma como você falará, estando com uma latência mais alta, será impactada.

Um importante cuidado que se deve ter na escolha de uma interface de áudio é a fidelidade entre o sinal gravado e o sinal monitorado (com o auxílio do fone), pois, dado o fato de ela ser, em si mesma, uma placa de som, ela também interferirá na qualidade do som a ser monitorado, e pode, sim, fazer com que você ouça um som com certas características que não correspondam fielmente ao que está sendo gravado. Se a interface faz com que você ouça algo diferente do que está sendo gravado, prefira trocar de interface.

Neste artigo, falarei dos fones de ouvido muito brevemente e pensando apenas em sua função de monitoração. Eles serão plugados à interface de áudio por meio de uma conexão P10. A missão desses fones é monitorar, o que significa que é com eles que você identificará se o som gravado está com algum ruído prejudicial, se ficou mudo, se a voz a ser gravada está mesmo sendo captada, se existe alguma anomalia em termos de equalização, se o som está desbalanceado, além de tantas outras questões a serem avaliadas ao longo da gravação. Ou seja, só com base no que acabei de dizer, já podemos afirmar que não podem ser fones de ouvido quaisquer.

Estamos falando de fones que precisarão ser utilizados durante toda a gravação, e isso pode durar longas horas ininterruptas; então, pode apostar que você quererá que esses fones sejam muito confortáveis. Pensando nisso, sugiro que sejam Headphones grandes, que envolvam as orelhas por completo dentro de suas grandes conchas e que sejam fones de concha fechada (Closed-back), pois fones abertos ou semi-abertos podem sofrer com vazamentos de som.

Tal vazamento pode ocorrer tanto de dentro para fora quanto de fora para dentro. No caso de dentro para fora, ocorre principalmente nos casos de quem ouve com o volume muito elevado, e tais vazamentos de som podem comprometer os trabalhos se forem captados pelos microfones. No caso de fora para dentro, pode ocorrer de barulhos externos o façam acreditar que você ouviu alguma imperfeição no áudio, mas pode ter sido só a interferência de alguma fonte externa que atrapalhou sua audição e pregou essa peça.

Deixarei aqui algumas boas sugestões com as características mencionadas:

Apesar desses modelos excelentes (e um tanto caros para o bolso da maioria), deixarei um modelo de fone que eu geralmente indico a quem não quer desembolsar uma quantia alta logo de cara, principalmente se estiver começando agora: Arcano SHP-300, que eu imagino que deva ser encontrado por aproximadamente R$250,00. Ele não entregará o mesmo nível de qualidade dos demais fones indicados, mas não deixará tanto a desejar, principalmente para quem estiver apenas começando; é um bom fone, mesmo não sendo profissional, mas não tem o mesmo nível dos fones listados.

Agora, que já tratamos do que precisávamos sobre as interfaces, mesmo não tendo nos aventurado por várias questões muito mais profundas, que julgo serem desnecessárias por agora, podemos considerar que já podemos dar por finalizado o kit básico, que depende do microfone (com seus acessórios), da interface e do fone. No entanto, muitos Setups podem depender de outros elementos para aprimorar ainda mais os resultados, e acho válido abordar alguns ainda neste mesmo artigo; então, vamos a eles.

Pré-Amplificador

O Pré-Amplificador (também conhecido como pré-amp ou como preamp) é simplesmente essencial para este tipo de trabalho, mas não se assuste, pois eu não o havia menosprezado ou ignorado; as interfaces de áudio que apresentei trazem consigo ao menos um preamp. Sabe aquele knob que você gira para regular a quantidade de ganho a ser fornecida ao microfone? Aquilo ali é a essência do que o preamp faz diretamente na própria interface de áudio.

Creio que você esteja se perguntando, então, qual é a necessidade de falar sobre preamp agora, dado que as próprias interfaces já possuem esse recurso. A resposta é simples: às vezes não é o bastante. Alguns microfones podem ser exageradamente exigentes quanto à quantidade de potência a ser injetada para alimentá-los, e isso pode se tratar de uma quantia que o preamp da interface, que quase sempre é bastante fraco, não dá conta de entregar; ou, ainda que dê conta de entregar, pode ser preciso chegar aos limites mais extremos da potência que o preamp da interface consegue entregar, e isso faz com que o equipamento passe a introduzir quantidades de ruído aditivo (e de distorções) que já não são mais tão baixas assim, o que é um problema grave, em termos de qualidade sonora.

Para contornar isso, é importante que o preamp da interface, que geralmente não é muito bom, não seja tão “sobrecarregado”; mas, se não for fornecida potência suficiente, o sinal do microfone será captado de modo que parecerá que o som é muito “baixo”, ainda que não seja esse o caso. Para ajudar com isso, é preciso utilizar um outro equipamento de amplificação que venha antes da interface, um outro preamp, mas que desta vez seja apenas um preamp mesmo; ou seja, sem ser o de uma interface. Esses preamps (“dedicados”) tendem a entregar um resultado melhor; eles conseguem conferir uma quantidade de ganho mais significativa ao sinal de entrada sem introduzir tantos ruídos quanto seriam percebidos pelos resultados do mesmo processo feito diretamente no preamp da interface.

Vale lembrar que, caso você utilize um preamp independente, que vem antes da interface, você continuará utilizando o preamp da própria interface, mas não utilizará mais o Phantom Power da interface; agora é preciso que o Phantom Power venha do preamp independente. Sempre o Phantom Power precisa vir do primeiro equipamento ao qual o microfone estará conectado. Mas não se preocupe, porque, assim com eu havia dito que quase qualquer interface hoje em dia já vem com esse recurso, eu digo o mesmo sobre os preamps, mesmo os mais simples.

A escolha do seu preamp também deve levar em consideração qual será o microfone a ser utilizado. Microfones condensadores costumam ser um tanto menos exigentes quanto à quantidade de potência a ser conferida pelo preamp, pois, como são mais sensíveis, não é necessário conferir muito ganho para que o sinal resultante soe satisfatório. Microfones dinâmicos, por sua vez, tendem a demandar maiores quantidades de potência do preamp para isso. Caso o seu preamp seja “fraco” demais para o seu microfone, que é algo que, provavelmente, só ocorrerá em alguns casos de microfones dinâmicos, é possível que você precise conferir o máximo de ganho que ele possa oferecer para tentar captar um sinal com boa potência de saída, e, como já vimos, isso provavelmente introduzirá distorções e ruídos extras ao seu sinal desejado; portanto, pode ser necessário incluir ainda mais um mecanismo nesse processo: um Microphone Booster (também chamado simplesmente de Booster, ou mesmo de Pré-Pré-Amplificador, pelo fato de ele vir ainda antes do próprio Pré-Amplificador).

O mais famoso dos exemplos desses Boosters é o Cloudlifter CL1, que é um pequeno equipamento com uma entrada XLR e uma saída XLR; nada além disso. Você deve conectar o seu microfone ao Booster e conectar o Booster ao seu preamp ou, se quiser, diretamente à sua interface. Esses equipamentos, em geral, conferem um ganho imenso ao sinal do microfone; salvo engano, cerca de 25 dB. Além disso, são considerados dispositivos que entregam um ganho bastante “limpo”; ou seja, é um ganho que não produzirá notáveis distorções ou que introduzirá ruídos facilmente perceptíveis.

Assim como o CL1, existem vários outros no mercado que entregam resultados equiparáveis em diversos aspectos. Entenda que esses dispositivos dependem, sim, de alimentação energética para funcionarem, mas isso ocorre por meio do próprio Phantom Power. Caso você não se lembre, volto a dizer aqui que o Phantom Power NÃO deve ser utilizado em microfones dinâmicos, mas você não precisa ficar com medo de utilizar o Phantom Power para alimentar esses Boosters porque a tensão que o Booster recebe pelo cabo XLR não passa do Booster para o seu microfone. Desse modo, o microfone dinâmico pode ser conectado ao Booster sem medo de ser danificado por um uso inadequado de Phantom Power.

Até hoje, o único microfone que vi demandar desesperadamente por um Booster é o Shure SM7B. Quase nenhuma interface que vi conseguia entregar com seu próprio preamp a potência necessária para o SM7B entregar o resultado bom que ele é capaz de produzir. Quase sempre era preciso utilizar um Booster ou mesmo um preamp típico em forma dedicada além da interface. Há até cenários em que se utiliza o Booster, o preamp típico e a interface (com seu preamp embutido).

De qualquer forma, apesar de muitos alegarem que outros microfones não dependem de Booster — na verdade, há até algumas pessoas que alegam que o próprio SM7B não depende, mas quase sempre são pessoas que utilizam interfaces com um preamp (embutido) poderoso ou um preamp (dedicado) poderoso — , pelos meus testes, há melhoras significativas com o seu uso em outros casos. Dentre os microfones dinâmicos mais famosos, os que testei e senti diferença significativa são o Electro Voice RE20, o Heil PR40 e o Shure SM 58, mas nenhum deles chega realmente a depender do Booster. Pode ser que outros microfones também sejam beneficiados; é uma questão de experimentar para saber. Por via das dúvidas, se estiver ao seu alcance, tenha um consigo e experimente com diferentes microfones; se sentir que o resultado agradou, use-o; simples assim.

Agora, só tome o cuidado para não afirmar que o Booster é inútil, ou algo assim, apenas porque você consegue entregar um sinal “alto” à interface, pois isso está longe de ser suficiente; é preciso garantir que o sinal que chega à interface, além de ter uma potência decente, tenha, também, uma qualidade decente, com a menor distorção possível e com a maior SNR possível.

Existem muitos preamps no mercado, mas a grande maioria dos bons equipamentos, infelizmente, não é vendida no Brasil; a não ser que estejamos falando de equipamentos usados ou que foram importados para serem revendidos por aqui sem ser por uma loja oficial que emita nota fiscal. Por isso, é muito comum comprar esses equipamentos usados de quem comprou o equipamento por conta própria através de algum site como eBay, Sweetwater, Reverb, Amazon, BH Photo & Video, ou similar. E já aviso para tomarem cuidado quando forem comprar esses equipamentos de fora do Brasil, porque é quase garantido que serão taxados e, como são caríssimos e os impostos levam em consideração tanto o preço do produto quanto o preço do frete, nem queiram saber quanto que isso vai acabar custando no fim das contas, principalmente se o produto vier por transportadoras particulares em modo de entrega expressa, prioritária, urgente ou algo do tipo. E, caso queiram comprar usados de fora, em alguns casos, a alfândega brasileira pode dar uma boa dor de cabeça, podendo até mesmo barrar a entrada no país.

Um fabricante brasileiro que possui alguns equipamentos muito interessantes é o GreenBox, e um profissional independente que fabrica equipamentos de muito alto nível é o Lisciel. Recomendo que vejam os trabalhos de ambos, mesmo que só para conhecer mesmo, e também para saber que existem, sim, profissionais e empresas aqui, no Brasil, que fazem produtos de muito boa qualidade. Eu só indico que vocês ao menos conheçam esses equipamentos porque confio na qualidade que eles entregam. O único porém — e vamos deixar bem claro aqui que isso NÃO é culpa desses fabricantes — é o fato de não serem equipamentos acessíveis a quem está apenas começando. Os equipamentos são profissionais e feitos para quem quer trabalhar profissionalmente com áudio de alto nível, então fica difícil fabricar algo de tão boa qualidade, com tudo custando tão caro para os fabricantes, e depois vender por um valor baixo. É compreensível. E vale lembrar que esses equipamentos costumam durar vários e vários anos, podendo até durar a vida toda, caso sejam utilizados com o devido cuidado e caso passem por manutenções adequadas.

Listarei aqui vários preamps bastante respeitados por diferentes níveis de exigência semiprofissional ou profissional:

Agora, se você quer ter um preamp dedicado e não tem condições de obter um da GreenBox, ou um handmade do Lisciel, que são todos na faixa de alguns milhares de reais, ou mesmo qualquer um dos listados acima, eu recomendo o Arcano AR-PREMIUM-PRE1 (~R$700,00) ainda que só para você experimentar como seu primeiro preamp. É claro que o nível de qualidade não se compara aos anteriormente mencionados; porém, você que está começando não será prejudicado por começar com algo não tão avançado. Deixe para ir melhorando seu Setup aos poucos, conforme for aprendendo a usar o equipamento e conforme for ficando mais exigente e mais proficiente quanto aos conhecimentos dessa área.

Outros equipamentos

Existem diversos outros equipamentos que podem agregar muito aos seus trabalhos de áudio, mas não investirei muito na explicação deles aqui porque não os considero realmente essenciais para a maior parte do público a quem se destina este material. Deixarei, no entanto, a sugestão para que pensem em certos recursos e equipamentos que talvez enriqueçam a qualidade de certos trabalhos de áudio, e aproveito para deixar uma ideia muito breve sobre o porquê de pensar em incluir em sua lista de interesses:

Podemos passar, então, para algumas sugestões.

Sugestões

Deixarei aqui algumas sugestões de Kits que conseguiriam entregar um resultado interessante para diferentes cenários, mas tenham em mente que os preços podem sofrer significativas modificações, dependendo de quando for feita a leitura deste texto e, também, das lojas utilizadas como referências.

Dinâmico — Kit 1

Total = ~R$2.750,00

Condensador — Kit 1

Total = ~R$2.980,00

Dinâmico — Kit 2

Total = ~R$6.750,00

Condensador — Kit 2

Total = ~R$5.880,00

Dinâmico — Kit 3

Total = ~R$18.800,00

Condensador — Kit 3

Total = ~R$21.730,00

Sugestão complementar Embora eu não tenha mais conseguido encontrar à venda no Brasil, deixarei aqui a recomendação de, à medida do possível, tentar incluir um DBX 286s a qualquer um dos Kits. Isso deve aumentar o preço total em cerca de R$2.000,00, mas vale a pena para melhorar a qualidade, principalmente dos Kits 2 e 3, independentemente de ser para dinâmico ou condensador. Há opções bem melhores disponíveis, mas a maioria custa muito mais do que isso. Um DBX 166XL também pode ser uma boa em vez de o 286s, e esse você consegue por um preço um pouco menor. Cheguei a comprar um usado por cerca de R$600,00, mesmo durante a pandemia, e funcionando impecavelmente bem.

Caso você obtenha o 166XL, eu recomendo que também compre um preamp dedicado. Procure respeitar o nível de exigência que acompanhe os demais equipamentos do seu Setup. Se você estiver lidando com um Setup um pouco mais singelo, pode ser um Arcano AR-PREMIUM-PRE1, que já havia mencionado no artigo; para um Setup um pouco mais avançado, prefira um PreSonus Studio Channel, ou um GreenBox (seja o GB92K ou o Duo Clean), ou até mesmo um Warm Audio WA12 MKII; agora, se for para algo ainda mais avançado, mas sem chegar com os dois pés no peito, pode ser legal partir para um Universal Audio 4–710d, um Avalon VT-737sp ou um Manley Core Reference.

Encerramento

Faço questão de dizer que nem mesmo os próprios equipamentos de mesmo modelo e mesmo fabricante são iguais. Se experimentarmos vários equipamentos de mesmo modelo, perceberemos que há diferenças mesmo entre eles; imagine, então, a diferença que pode haver entre equipamentos de modelos diferentes e com combinações diferentes. Por isso, se estiver ao seu alcance, tente adquirir e experimentar equipamentos diferentes por conta própria; isso ajuda muito a aprender mais sobre a área e a desenvolver ainda mais os seus próprios gostos e suas próprias opiniões sobre o que fica legal e o que não fica no fim das contas; e é isso que importa, porque o primeiro que deve sentir que o resultado agradou é você mesmo.

E tome muito cuidado para NÃO pensar que tudo se resolve com Plugins, que é uma bobagem investir dinheiro em equipamentos hoje em dia, e que só investe muito dinheiro em equipamentos quem quer esbanjar. Não é assim que funciona, pessoal. Muito pode ser feito por meio de programas de computador, mas nem tudo. E o resultado final não fica igual; pode até ficar muito bom, mas igual não fica, não.

Para quem quer muita qualidade, sempre valerá a pena ter um ambiente acusticamente tratado, um microfone decente, um preamp digno, uma interface boa, cabos de boa qualidade e bons fones de ouvido para monitoração ao vivo em tempo real. Investir em equipamentos, desde que seja um investimento consciente em algo que faça sentido para o tipo de trabalho a ser feito, e desde que a pessoa saiba utilizar o equipamento, sempre será válido.

Espero que você sinta que este conteúdo contribuiu de alguma forma aos seus trabalhos, ou mesmo às suas curiosidades sobre áudio.